Wednesday, November 08, 2006

O segundo passo













Ele percorre longos trechos a pé.

A cada dia pensa ser diferentes porque vira esquinas antes não trafegadas, atravessa ruas em lugares pouco prováveis, faz zigue-zagues onde menos se espera. Mas não deveria se iludir. Ao invés de segmentos de reta, seus percursos descrevem espirais. Ele sempre retorna ao mesmo ponto, mais velho, mais cansado.

Seus percursos são roteiros de um relógio externo. Precisa caminhar para não perder o ritmo. Qualquer distração pode animar o andarilho, aliviar o fardo desse maquinismo. Esquecer. E esquecer poderia ser bom, se não houvesse tanto entulho soterrando-o.

Andar é abrir frestas para respiro.

Os repetidos esforços começam a fatigar. Mesmo aquilo que lhe assegura vida agora parece pedir ajuda. Não basta cessar o movimento ou tomar água. Nem talvez seguir outro rumo. É quase certo que ele não saiba o que fazer. Ou que não deva existir mais nada.

Mas os ponteiros continuam sua jornada.

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