Thursday, January 27, 2011

De ser

Sentir o vento no peito
Nele se ater, sem menos
Tempero e acentos, inteiro

Sentir no peito os veios
Intensos, sem medo nem tempo

Desde cedo, talvez sempre
Sem dizer
Sentir, sentir

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foto: detalhe do Parque do Ibirapuera, em São Paulo, por R.I.

Friday, January 21, 2011

Livre

Em ‘Além da vida’ (‘Hereafter’), dirigido por Clint Eastwood, as três histórias sobre experiências com os mistérios da morte estão entrelaçadas com os dilemas da vida terrena. É o impulso de lidar com eles que ajuda os personagens a resolver suas pendências, atravessar as pontes ou interromper o fascínio do que estaria do outro lado. Uma palavra de incentivo a continuar, a possibilidade de se expressar, um encontro romântico. Cada uma dessas realizações religaria os fios.

Quando se olha para os dias difíceis, difíceis, algum mistério parece oferecer conforto ou sentido. Mas, ao mesmo tempo, vira alimento para seu próprio poderio.

No café charmoso em Londres, quem recusa o dom tenta caminhar como simples mortal, sem privilégios de comunicação. Não sabe o que virá. Nesse desconhecimento parece caber sua liberdade.

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foto: detalhe do parque Moinhos de Vento, em Porto Alegre, por R.I.

Saturday, January 15, 2011

Nem se encontrar nem se perder

Espio Porto Alegre pela janela do táxi. A passagem pela cidade é rápida demais para deixar alguma impressão mais precisa. Mas lembro dos escritores que de certa forma a tocaram mais direta ou obliquamente. O canto fugato de Caio Fernando Abreu, as aquarelas amanhecidas de Mário Quintana. Que traços poderiam também ser os meus? Se a cidade não responde, deixarei que ela sobreviva na memória enquanto peças avulsas de um quebra-cabeças sem mapa. Cada pedaço talvez um começo de crônica, em dias quebrados, a cidade andando.

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foto: ao fundo detalhe da fachada do Mercado Público de Porto Alegre, por R.I.

Thursday, January 13, 2011

Nuvens informadas

Serão as nuvens confiáveis? Guardarão com cuidado os arquivos relíquias? Parecem tão instáveis nesta época de liquidez constante. Mas cada vez mais são transformadas em biblioteca do mundo digital. Quem olha para elas talvez não imagine sua capacidade de reserva ou precipitação. Mais que água conduzem pensamentos para lá e além.

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foto: céu do Pacaembu, em São Paulo, por R.I.

Tuesday, January 04, 2011

Fóton

Olhar fotos antigas não significa sempre voltar-se para o passado. Algumas vezes é um exercício de rearranjar as peças de uma vida e conferir novos sentidos. Como se uma outra história estivesse passando, uma outra pessoa. E essa paisagem quebra-cabeças se tornasse a cidade de tempos corrigidos. Gestos desatados.

Entre tantas fotos alguma luz ainda parece intrigar. Leva a atenção para um ponto esquecido, que não se valorizava. Que talvez possa ser religado.

Mais um caminho. Ainda algum.

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foto: instalação sobre a praça do Patriarca, no centro de São Paulo, na Virada Cultural 2010, por R.I.