Sunday, July 29, 2007

Pelo caminho

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Pouco se sabe do percurso que vem. Só se tem como certo o meio pelo qual se tentará efetuar a travessia: uma bicicleta. Assim a jornada começa e continua. A paisagem por vezes é bonita e o viajante pode se esquecer dos riscos de momentos atrás. Outros estão por vir. Ele contempla e hesita. Sente alívio como se estivesse livre de todos os compromissos. Mas também estremece diante dos baques que se repetem com alguma regularidade. Nessas horas o peso do veículo cai sobre seus ombros.

Manter a bicicleta rodando, equilibrar-se sobre ela, parece mais difícil do que se pode imaginar. Requer uma alimentação constante, um olhar de confiança ao longo da pista transformando-se em destroços. Andar por agora, andar para depois. Não deixar cair o movimento, parar e apreciar o horizonte.

Todos os tempos circulam na incerteza das rodas. Quem vai junto talvez não saiba. Até quando o que vem deixa de ser.

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Saturday, July 21, 2007

Um reencontro

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E vem o dia em que volta a sensação de desamparo. As coisas quebradas, ninguém por perto, não saber como sair dessa. Ao mesmo tempo estanque e passa sem permitir um desafogo ao menos. Tudo lembra desse passado. Talvez não mais, se algum curativo, a espera de um pai.

Nem a luz ajuda. No meio de um inverno estranho, o dia se encurta mais. Será possível chegar ao fim da travessia?

Agora é cada vez mais a sensação desse desamparo.

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Saturday, July 14, 2007

A hora certa

Um poema é como pão de queijo ou café. Entrega seu melhor sabor no instante em que fica pronto. Mas como saber quando está no ponto?

E ele perde lento o vapor que o anima. A força que retira da matéria reverte às suas mãos, queima. Se o desperta também faz derivar.

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Monday, July 09, 2007

Monday, July 02, 2007

Pacífico-Atlântico


Ao se entrar na sala um sensor aciona o mecanismo que faz girar o imenso globo terrestre. É escuro e o barulho de máquinas faz supor que estamos dentro de um navio. Pouco a pouco outros elementos se distinguem. Agora parece um porto. Malas e caixas atulhadas deixam ver que vários mundos pessoais estão de mudança. A paisagem é sombria e desalentadora, mas também guarda luz para traços futuros. Afinal, nada ali parece feito para repouso ou fim. É apenas um momento de passagem. Uma plataforma de abandonos alongada pela viagem, mas pronta para ela mesma se extinguir.

Alguns dias são assim. Desembarques forçados sem clareza ou vontade. E trajetos sem avisos, em direções sem saber.

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foto: detalhe da Sala de Navegação, Memorial do Imigrante, São Paulo, por Ricardo Imaeda