Thursday, February 25, 2010

Antes da névoa final

Parece como estar em um mirante, voltando-se para cada outro lado, sem saber onde fixar o olhar. Mas não para alguma beleza distante. De qualquer ponto pode sobrevir o risco, a carga do que se tem que suportar. Por quanto tempo mais? Quando chegará a hora de deixar de esperar?

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foto: vista a partir do Pico do Penedinho, em Penedo, estado do Rio de Janeiro, por R.I.

Saturday, February 20, 2010

A pedra-carta, entre a vida e a morte

Em um dos motivos mais bonitos do filme ‘A Partida’ (direção de Y. Takita), é uma pedra o veículo de comunicação e significado, transmitida de filho para pai para filho. Depois de muitos anos ela diz do que havia ficado de sentimento, rompido pelos gestos errados ou sinais mal interpretados. Nas mãos dos dois, separados pelo tempo e vida, o pequeno seixo rolado mostra a eloquência do sentido emudecido. E é o vínculo mais imediato com a natureza sempre marcante, que emoldura e pontua a evolução da história.

Nenhuma palavra. Só o tempo. O que se perdera enfim retorna à consciência.

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foto: detalhe do parque do centenário da imigração japonesa no Brasil, na cidade de Mogi das Cruzes, estado de São Paulo, por R.I.

Tuesday, February 16, 2010

Tempos difíceis


Dias de dissolução.

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foto: Casa das Caldeiras, no bairro da Água Branca, zona oeste de São Paulo, por R.I.

Tuesday, February 09, 2010

Agora ontem

[ao som de ‘Sonora garoa’, de e com Passoca]

Tarde de segunda-feira, parque da Água Branca. Em um canto sob as árvores, dois violeiros e uma cantora ensaiam toadas. Vozes e cordas estão afinadas nas trilhas paralelas em que as memórias caminham tropeçando.

Lá em frente o escuro da noite, os campos cultivados, colheitas do dia seguinte. Ele toca a viola, o toque tremido em meio ao imenso espaço que o deixa aí distante, noite de semana sem luar em 1948. Aprendeu a música de algum outro lavrador, imitando o jeito de segurar, de fazer vibrar o aço quase cortante, quase parecido com o que sentia nessas noites largas, alagadas na falta. Quando toca é como se juntasse a quem o conhece ou compreende. Como se cobrisse as cicatrizes abertas na lida, na viagem, no abandono.

O imenso campo se estende até agora. Noite tarde, plantação cidade, pai, ausente.

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foto: colinas na cidade de Cunha, vale do Paraíba, por R.I.

Thursday, February 04, 2010

Sem algo

Quanta água já deve ter escorrido desde que, ainda estudante, desenhou as linhas de futuros possíveis. Cada uma delas parece ter se apagado ou partido sem deixar nota. Não guarda lembranças mas nesses dias de chuva elas voltam como visitas. Familiares e tão irreconhecíveis.

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foto: viaduto Santa Ifigênia, a partir da torre do mosteiro de São Bento, em tarde de chuva, no centro de São Paulo, por R.I.