Saturday, April 24, 2010

A companhia

Ventos particulares. Agitam intensa interiormente em dias parados. Tantas vezes chegam para mostrar a face curta da estabilidade. As pontes balançam, o abismo escorrega. Afundo os passos para abraçar a terra. Os fantasmas todos parecem voltar, íntimos de tão pouco esquecidos. Querem se instalar de novo, agouros do que desanda, danosos.

Mas agora não estarão mais sós para exercer seu domínio. Ao respirar profundo e consciente, vem a atenção plena iluminar as aflições, acompanhar compreensivamente seus tombos, transformar sua energia.

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foto: detalhe do mirante na rua Cerro Corá, no Alto da Lapa, região oeste de São Paulo, por R.I.

Thursday, April 15, 2010

O que voltou

Olhou para o alto em um movimento quase brusco. Os versos da canção emergiam de um sono de mais de vinte anos. Não era para entender, buscar razões. Simplesmente havia música. Quis lembrar do restante, mas apenas conseguia repetir o começo. Como se estancasse ali a passagem, toda possibilidade.

Ouviu o que sentia. Em frações que duravam prazos sem respiro. Cantou, baixo, para não atrair censores. E então olhou de novo para onde estava. A cidade estremecia.

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foto: céu do Pacaembu, na região centro-oeste da cidade de São Paulo, por R.I.

Sunday, April 11, 2010

Salvo um animal a cada dia

E o vejo passar.

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foto: colinas de Piracaia, ao norte de São Paulo, antes da chuva, a partir da varanda da Casa do Artesão, por R.I.

Tuesday, April 06, 2010

Momentos decisivos

Existe uma hora exata. Se deixado para depois simplesmente não acontece. Vai figurar apenas como mais um item na agenda, mais uma das coisas que nunca viverá. Talvez seja assim também com as palavras. Parecem deslizar em uma plataforma de lançamento, prontas para saírem ou caírem esquecidas.

Como saber quando as sementes amadureceram, precisar o instante em que os gestos devem partir? Muitas portas sequer são reconhecidas. E é ao estranho que anunciam.

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foto: interior da Basílica de Nossa Senhora do Carmo, na Bela Vista, em São Paulo, por R.I.

Friday, April 02, 2010

Lunar

Mais além das nuvens
Entre os ventos e as chuvas
A lua goteja

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Caminha encoberta
Sobre ruas e sementes
Deita luz e acorda

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