Saturday, November 28, 2009

Sem átomos

Nesta hora, se percebesse o mundo da forma como fazia, deveria sentir um imenso tédio, uma insatisfação sem fim. Deveria acolher como derrota o destino que se condensou à minha volta. E seguiria com pesar, cessando passo a passo a velocidade até que algo se partisse para sempre.

Mas não é mais assim, embora nada tenha mudado de fato. É como aquele ônibus de dois andares, se lembra? Os dois planos da existência, lado a lado (ou acima e abaixo). Olhar para cada coisa em profundidade, não mais como um outro, mas como parte do universo. E me ver dissolvido na fração que se perde no percurso.

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foto: detalhe do interior da Catedral Metropolitana Ortodoxa, no bairro do Paraíso, em São Paulo, por R.I.

Friday, November 20, 2009

Para onde

Quantas vezes terá olhado para o céu, dia ou noite, não em busca de algo extraordinário mas apenas de uma densidade diferente. Algo que o isolasse da rua e da vida como era gasta.

Por segundos restou entre os poucos espaços ainda livres, contemplando o que permanecia. Até quando desceu. E não saberia nem mais para onde.

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foto: detalhe do jardim e da Casa das Rosas, na avenida Paulista, SP, por R.I.

Saturday, November 14, 2009

Sim, muito bonita


Nesta última viagem de ida e volta rápida ao Rio de Janeiro o motorista de táxi faz uma daquelas perguntas que exigem resposta concisa e argumentada. Não foi dirigida a mim, mas deixou muito a pensar. Dizia ele que nunca tinha estado em São Paulo, perguntando logo em seguida se a cidade era bonita. Minha amiga alongou uma pausa para finalmente desfiar suas considerações.

O que faz uma cidade? De que beleza se trata?

Qualquer que seja a resposta parece que ela vai se contrapor à imagem que se tem de sua própria cidade. Como se o depoimento do outro sobre o lugar de sua familiaridade viesse a compor com aquilo sobre o qual se tem algum domínio – a opinião, o entorno conhecido. E devolve a quem responde uma reflexão que talvez não estivesse acostumado a fazer.

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foto: panorâmica de São Paulo a partir da Pedra Grande, no Parque Estadual da Cantareira, zona norte da cidade, por R.I.

Friday, November 06, 2009

Lento ao lento

Qualquer dia desses as coisas deixarão de se repetir. O que antes era automático perderá velocidade, chegando talvez até a parar. Pode se que passe despercebido entre tanta informação reciclada. Lento como poucos seguirá por algum estreito enquanto o tempo não o apagar.

Talvez chova, talvez fim.

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foto: escultura de Tomie Ohtake e edifício Santa Catarina, na avenida Paulista, em São Paulo, por R.I.