Tuesday, May 31, 2011

Contemplação

Tempo. A maior riqueza. Os espaços em branco são essenciais para que a visita do novo aconteça. Para que se pare a resposta automática, o giro da engrenagem do já sabido. Um tempo livre para se deixar ficar.

Dias sem preenchimento. Sem tarefas ou objetivos. Apenas com a vida em passagem. À vida.

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foto: paineira e voo de pássaro na entrada do núcleo Pedra Grande do Parque Estadual da Cantareira, por R.I.

Tuesday, May 24, 2011

Um café para o não esquecimento

Marcamos um café para nos revermos. Tanto tempo. Será como nas fotografias, gestos retirados da história, guardados no álbum?

São imagens mudas, mais resistentes que as falas. Mais alongadas que fixas, lançando ventosas nos dias que passam na sua ausência.

Um café pelos velhos sentimentos, sentidos restaurados, afetos tangentes. Por todos os caminhos que se intercederam sem motivo anunciado. Conversas que acabaram cedo e nunca mais continuaram.

Em algum lugar sem o mesmo passado acontece um café. Entre janelas e fotos conta os minutos que faltam para que talvez se reconheçam.

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foto: clarabóia da sala do pregão da Bolsa do Café, em Santos, por R.I.

Thursday, May 19, 2011

Como sobreviver

[ao som de ‘A piece of sky’, de M. Legrand e A. e M. Bergman, na voz de Barbra Streisand]

Como continuar a viver sem se desesperar diante de tantas armadilhas despejadas por pessoas e empresas ardilosas, governos e grupos contaminados, corporações sinistras, todos sempre prontos a tirar proveito de inocentes e incautos? Como manter a serenidade diante de tanta maldição? Como não cair e não entregar a paz, a ciência, a direção?

Muitos tropeços parecem estar a ponto de acontecer. Muita fragilidade. Ali onde cresce a sensação de estar só, mais só do que na proximidade da partida. Sem qualquer lastro nem palavra.

Ao pouco que restar de força talvez se guarde alguma lembrança. Talvez se volte a cabeça para o alto na intenção de uma súplica. Talvez se pare e se mergulhe na estreita possibilidade de um reencontro. Uma fímbria de céu. Sem depois.

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foto: teto da estação Pinheiros do metrô, em São Paulo, por R.I.

Saturday, May 14, 2011

Fora

Quando me esqueço do que guardo,
quebro grades, graves quinas
quase grito, quase ganho

Esqueço-me agora
em quadros e gumes
em quartos minguantes

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foto: orquidário Ruth Cardoso, no parque Villa-Lobos, em São Paulo, por R.I.

Thursday, May 05, 2011

As várias travessias

Pois é. Não bastasse a dificuldade de transpor o grande rio, o cansado se dá conta que o percurso terá de ser feito inúmeras vezes. Cada dia. Talvez o fôlego dure por algumas travessias, mas não parece suportar tantas repetições. E também o rio se desdobra em outras formas, novos sofrimentos.

O barco que abriga o sozinho desaparece em meio a espessas névoas. Perigosas correntes empurram-no para direções que não se sabe. Mal se perde, não se deixa.

São diversas vezes que se tem que cruzar esse rio, esses rios. Com o corpo cada vez envelhecido, a mente instável.

:: foto: rio Perequê-Açú, em Paraty, por R.I.