Monday, September 10, 2007

O desespero e a amora

Domingos são dias que embaralham percepções. Parecem seguir um ritmo de escoamento diferente. Mais rápido ou devagar, não importa: confundem o passageiro ao dilatar os pontos-limite para cada atividade do dia. Como se não houvesse mais fronteiras necessárias, como se tudo fosse contingente. Parecem deixar essa liberdade para quem quiser ousar, desviar passos, experimentar. Mas, talvez pela brevidade da promessa, também anunciam o final do período dessa licença. Alarga-se o mundo, que se ameaça fechar de novo logo mais.

O que fazer nessas horas? Para onde ir? A pressa incontida desenha freios quando não se quer. Uma paralisia de repetir sempre o mesmo, rotinas de um mesmo dia. E um outro fosso, talvez mais largo ou fundo: um pensar em si sem molduras fixas, sem artifícios de projetos ou lembretes de infância: um redemoinho personalizado com aceleração crescente e paisagem calma para contrastar. Como se fosse correr cada hora em uma direção, sob mapas autodestrutivos, no desejo único de não estar mais ali no momento seguinte. Apenas sair.

Sentado em um banco no Parque da Água Branca, em São Paulo, noto o calor deixar cada vez mais espaço para o vento fresco. Os patos caminham livres pelas alamedas e o canto de outras aves pontua o fim de tarde. Sinto o baque de uma amora sobre o ombro esquerdo. A fruta desliza e deixa uma mancha arroxeada na camiseta branca. A amora cai ao chão e me faz levantar.

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