**
De dentro do ônibus no Fura-Fila a cidade parece ainda mais obscura. A via elevada trafega por sobre o vale do rio Tamanduateí, em meio a galpões industriais e ao acúmulo de construções decaídas. Não há horizontes agradáveis nem convidativos. O trajeto parece confirmar a impressão de um caminho de obrigações e necessidades. Nem a cor amarela da estrutura anima muito o passageiro. A velocidade é pouca. Só se quer chegar.
Mas em algum ponto, entre a Vila Prudente e o Ipiranga o cheiro de bolo recém assado invade o veículo e toda a redondeza. Será de alguma fábrica? Alguma padaria? O aroma é forte e condutor. Faz imaginar os doces de uma paz culinária, embrenhada em um passado suave. Fornos e mesas, pães e biscoitos. Um chá da tarde, café, visita amiga. Esse cheiro intenso deve ser mais gostoso do que o próprio sabor. É a única força que desvia o ônibus de seu roteiro de inospitalidades.
Procuram em vão pela origem do cheiro, do bolo. Eles são de todo inalcançáveis. Não estão apenas fora do ônibus. Eles passam.
Sunday, March 18, 2007
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
1 comment:
O cheiro do bolo parece ter envolvido o post ...
Post a Comment