Tuesday, September 19, 2006

O outlet da política

Quem circula pelas grandes cidades deve ter notado o fenômeno da multiplicação das lojas de ponta de estoque, os autodenominados ‘outlets’. Atraem compradores com a promessa de reduções: de luxo na decoração, de conforto para o estar, mas também de preço nos itens vendidos. Seu número crescente pode ser interpretado não apenas como a banalização de uma estratégia comercial. Nem tantas ofertas são de fato imperdíveis nem tanta gente acredita mais no rótulo. De um lado busca-se o efeito. Haverá ainda os interessados. Eles estarão dispostos a vasculhar prateleiras e araras à procura de bens de que talvez nem precisem. Mas haverá também quem passe ao largo, desdenhando da sereia que imaginam ter identificado.

Nunca será demais lembrar que só existe política porque existe desigualdade. E o fundamento do poder está no acesso diferencial a recursos (no sentido amplo). Ao longo da história diversas formas de exercício do poder foram experimentadas. Com maior ou menor grau de ampliação do círculo dos incluídos (com acesso); com diferentes níveis de participação dos de fora; e através das mais variadas formas de sedução e uso da força. Em algumas delas há um periódico rito de ajuste de contas e troca de jogadores, processo no qual a maioria da população é chamada a participar.

As vitrines de outlets tendem a ser feias. Parecem servir para anunciar apenas a si mesmas. O que importa é estar escrito ‘outlet’ para que todos saibam que ela está lá, disponível, pronta para ser visitada. E, claro, a marca a que se refere a loja. Quem um dia comprar algo pode passar por elas e achar que fez um bom negócio. Pode simplesmente esquecer. Ou pode achar que é tudo a mesma coisa e se lastimar.

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