Thursday, June 22, 2006

Para fora de si mesmo


Essas coisas são mesmo meio artificiais. Parece forçado insistir nessas imagens, produtos mentais. Não é sempre assim? Criamos figuras a partir de quase nada: uma ou outra informação solta, algumas preferências jogadas ao acaso, e muita imaginação para preencher o resto.

Talvez pouco sobreviva de tanta elaboração quando se cruza a porta para a rua. Qualquer rua, desde que vigília. Só vale então quando essas imagens perdem as molduras e ficam soltas para ganhar vida própria. Assim elas tendem a nos negar. Ou melhor, a contestar os exageros da vontade. Não serão mais parte de nós. Seu olhar de estranhamento sela um rito de abandono.

Desde quando nascem, frágeis, carentes, até essa emancipação vigorosa, trocam de lado tantas vezes. Alimentam depois vampirizam; caminham juntas, desandam; prometem, para finalmente aniquilar.

Para onde vão, deixam-nos quase sós. Apenas com a companhia delas mesmas, agora como mera lembrança.

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