Friday, February 09, 2007

Visibilidade sem parada

São Paulo, vale do Anhangabaú. Bem abaixo do Viaduto do Chá, dentro de um cubo preto especialmente construído para tanto, está instalada uma obra de Anish Kapoor: Ascension. No interior, o caminho até ela é estreito e sinuoso, criando expectativa. É como andar por um labirinto, ainda que sem tanta apreensão de se perder ou se achar. Mas quando se chega à escultura qualquer ‘oh’ é abafado. Quase não se percebe o que está adiante. São alguns estreitos rolos de fumaça cinza clara, quase brancas, que sobem em direção ao teto, sugadas por um exaustor, dentro de um cilindro mais ou menos invisivelmente demarcado.

Talvez alguém sinta alguma comoção ali, na reprodução controlada de uma cena tão corriqueira. Qualquer vapor de água de chaleira, qualquer chaminé, qualquer ralo gasoso... Outros poderão entrever algo de metafísico na quase imaterialidade quase diluição das amarras existenciais. Alguma conexão espiritual, sugerida pelo título? Na cidade ela pode servir como âncora de questionamento, parada para refletir.

A quase invisibilidade de pessoas, construções, sinais exige mais tempo para quem passa. Exige uma disposição diferente do olhar. Uma segunda chance. Quantos terão?

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