Thursday, January 01, 2009

O que desponta e se dissolve


‘To see a World in a Grain of Sand
And a Heaven in a Wild Flower
Hold infinity in the palm of your hand
And Eternity in an hour’
-- William Blake

[‘Ver o Mundo num Grão de Areia
E um Céu numa Flor Selvagem
Segurar o infinito na palma de sua mão
E a Eternidade numa hora’]
- [trad. de Mário Alves Coutinho, em ‘Tudo que vive é sagrado’, Ed. Crisálida]

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Em pouco tempo terminará este ano. Dentro do templo, muitas pessoas ao meu redor. O canto das monjas inspira a contemplar profundamente o universo. Aos poucos começo a visualizar os rostos das pessoas que conheci ao longo da vida. Eles vão surgindo espontaneamente, sem a direção da vontade ou da memória. Amigos ou familiares; conhecidos por longo prazo ou apenas alguns minutos; pessoas que me fizeram imenso bem ou inesperado mal; a quem propiciei algum conforto ou infligi algum dano. Rostos de animais com que convivi ou simplesmente vislumbrei ao longe. Árvores, águas, terra.

Olho para cada um deles na história, no presente e enquanto se dissolvem no horizonte. Para cada rosto um mesmo horizonte. Sinto que falta alguém, mas não condigo forçar as aparições. Elas fluem em uma sequência que não compreendo, como em um filme-resumo, que dizem surgir aos que estão falecendo.

Ouço ao longe o canto, que continua. Não sei quanto se passou nem me pesa a pressa, agora aquecido no peito por um abraço compassivo a essa paisagem, que finalmente reconheço e no qual me dissolvo.


Que seja inspirado e verdadeiro o ano que se inicia.

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Gostaria de recomendar intensamente o extraordinário livro de Sogyal Rinpoche, ‘O livro tibetano do viver e do morrer’ (ed. Talento e Palas Athena). A sabedoria que dele se aprende pode significar uma diferença sensível na vida a seguir.

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foto: detalhe do interior do templo Zu Lai, em Cotia, São Paulo, por Ricardo Imaeda

1 comment:

Anonymous said...

Ricardo, espero que a verdade deste ano não nos engula. E que as farsas sejam menores que as forças. E espero não só esperar, mas fazer. Obrigado por mais um texto-vida. Vou ler o livro. Abraço, Ricardo.