Friday, July 14, 2006

Uma segunda chance



Dois ramos de comércio prosperam nestes tempos tão difíceis: salões de cabeleireiro e sebos de livros. Se o primeiro é compreensível, como explicar o último? Será que existem mais pessoas lendo ou a procura se deve aos altos preços dos livros zero quilômetro? Talvez a internet tenha revivido o interesse pela leitura. Ou esses lugares ressumam valores antigos, que a saudade vai buscar.

[Talvez Anaelena saiba dizer]

Algumas ruas em São Paulo ensaiam ser a Charing Cross Rd, ainda que sem casas especializadas, sem organização ou sem grande charme. Mas deve haver procura porque, afinal, elas se multiplicam. Imagino mais vendedores dispensando sua carga preciosa, com pena da destruição, do que compradores curiosos. Mais negócios imperdíveis que achados inacreditáveis.

Nem antiquários nem brechós. Os sebos parecem atender a um gosto de primeira leitura sobre matéria gasta. Uma descoberta em segunda mão. Uma repescagem daquilo que ao mesmo tempo se descartou e não se perdeu.

Nunca comprei livros nessas condições. Nem mesmo discos ou revistas. Mas andar por essas ruas e essas lojas recria um sentimento de tempo represado, escoras diante do escorrer acelerado da maquinaria. As luzes fluorescentes, esquálidas, talvez não o mostrem a um primeiro relance.

Talvez seja isso que elas permitam: ao menos parar.

1 comment:

Anonymous said...

Pois é, Ricardo, também não sei. Ainda assim, que assim seja.