Tuesday, February 09, 2010

Agora ontem

[ao som de ‘Sonora garoa’, de e com Passoca]

Tarde de segunda-feira, parque da Água Branca. Em um canto sob as árvores, dois violeiros e uma cantora ensaiam toadas. Vozes e cordas estão afinadas nas trilhas paralelas em que as memórias caminham tropeçando.

Lá em frente o escuro da noite, os campos cultivados, colheitas do dia seguinte. Ele toca a viola, o toque tremido em meio ao imenso espaço que o deixa aí distante, noite de semana sem luar em 1948. Aprendeu a música de algum outro lavrador, imitando o jeito de segurar, de fazer vibrar o aço quase cortante, quase parecido com o que sentia nessas noites largas, alagadas na falta. Quando toca é como se juntasse a quem o conhece ou compreende. Como se cobrisse as cicatrizes abertas na lida, na viagem, no abandono.

O imenso campo se estende até agora. Noite tarde, plantação cidade, pai, ausente.

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foto: colinas na cidade de Cunha, vale do Paraíba, por R.I.

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