Sunday, May 20, 2007

No ar

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Sempre quis entender o fascínio que os malabares exercem sobre tanta gente. Tem aumentado muito o número de praticantes por recreação ou como meio de vida nos cruzamentos das avenidas. Às vezes são pinos; outras vezes, bolas. Até tochas de fogo. Mas o princípio e a engrenagem são os mesmos. As peças descrevem um movimento circular. Em cada mão uma unidade e, livre no espaço, pelo menos uma outra, invariavelmente o foco de nossa observação mais aguda. O objetivo é manter tudo girando sem que o movimento cesse ou alguma peça caia ao chão.

Os gestos lembram Shiva, segurando fogo em suas mãos, no centro e nas bordas da mandala da vida.


O praticante, ao colocar em marcha o mecanismo, brinca com a metáfora, como um deus ex-machina. Está ao mesmo tempo no centro do círculo – como parte do processo – e fora – como observador. Dele nasce o impulso, que o requisita como um mero dispositivo de realimentação. Ele é a roda e nele são todas as peças. Sua atenção tem de estar em todos os pontos, ao mesmo tempo, sem descuidar de nenhum. Ele medita.
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[versão revista de texto publicado no blog khi.livejournal.com há mais de dois anos]

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