Tuesday, May 01, 2007

Algum espanto

Museu da Língua Portuguesa, Estação da Luz, São Paulo. Na fila para entrar o menino pergunta para a mãe o que existe lá dentro, se tem tapete vermelho, outras coisas mais. Não sei se ele se decepcionará ou o que ele captará de todas aquelas formas de expor algo tão imaterial como um idioma. E o que ele levará da mostra sobre Clarice Lispector. Talvez seja ainda inalcançável a ele o caudaloso e ígneo universo da escritora. Mas em uma das salas mais concorridas – de relicários – poderia começar a balançar alguma resposta. Em uma caixa branca, que contém uma foto algo abstrata, sobre o vidro transparente está inscrita uma frase de ‘A maçã no escuro’:

‘E um modo indireto de entender é achar bonito’

Mais adiante, na sala de infinitas gavetas, alguém pode encontrar duas páginas iniciais de um livro que se chamaria ‘Objeto Gritante’, depois convertido para ‘Água Viva’. Nelas algumas anotações-lembretes-guias que caem como tal para qualquer um que se envolve com a escrita:

‘Escrever sem prêmio’ ... ‘Abolir a crítica que seca tudo’

Alguns visitantes anotam frases, têm um primeiro contato com a escritora, confirmam o que sempre pensavam, sentem talvez vontade de conhecer mais, se espantam. É o espanto talvez o que ela buscou iluminar.

No comments: