Monday, May 12, 2008

Com o esfriar enquanto anda

‘Cada passo é uma brisa que nasce’

[inscrição zen budista citada por Thich Nhat Hanh em ‘Meditação andando’]


A tarde esfria e ventos anoitecem na avenida. Pareço andar por um corredor aberto para a queda. Enquanto névoas de pessoas atravessam talvez tenha chegado o tempo.

Nas lojas de discos elas procuram pelos cantores do passado. Devem querer se agarrar às barras anti-pânico, que ainda podem ser notadas na linha do afogamento. Pelo menos uma sonoridade amiga nessas horas. E elas parecem contentes.

De volta às ruas o ar frio se condensa, espesso, na respiração do que não sabe mais voltar. Na memória alguma canção sobrevive, empurrada contra a indiferença, na dureza do que não cede.

Crepúsculos são perdas.

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foto: anoitecer em São Paulo, a partir da rua Nazaré Paulista, por Ricardo Imaeda

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