
Ele traz na bagagem uma câmara fotográfica e algumas idéias vagas sobre o passado. Ao desembarcar do trem puxado pela maria-fumaça sente uma familiaridade com aquela enorme construção. Era como se já tivesse morado ali, tempos de precariedade e mudança. Um continente novo, de terras amplas e palavras difíceis de pronunciar. Esse era o lugar por onde passaram tantos imigrantes de origens longínquas, biografias inteiramente alteradas na incerteza dos dias e anos.
Talvez se veja ainda como um imigrante nessa visita. Cada aposento lhe causa estranheza e medo. Nas peças de mobília e objetos de uso pessoal parece estar ainda irresolvida a disputa entre forças de partida e deriva. Eles traem um apego querendo não ficar. Como se tivessem impresso para hoje o toque tenso das mãos que a eles um dia se agarraram. Os passos relentam e pesam. Nesta casa muitas vidas devem ter se dividido. Para não mais se recompor.
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foto: Memorial [antes Hospedaria] dos Imigrantes, Mooca, São Paulo, por Ricardo Imaeda
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Talvez se veja ainda como um imigrante nessa visita. Cada aposento lhe causa estranheza e medo. Nas peças de mobília e objetos de uso pessoal parece estar ainda irresolvida a disputa entre forças de partida e deriva. Eles traem um apego querendo não ficar. Como se tivessem impresso para hoje o toque tenso das mãos que a eles um dia se agarraram. Os passos relentam e pesam. Nesta casa muitas vidas devem ter se dividido. Para não mais se recompor.
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foto: Memorial [antes Hospedaria] dos Imigrantes, Mooca, São Paulo, por Ricardo Imaeda
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