Olhou para o chão com cuidado nesses dias em que chove bastante. Ainda que não possa evitar água por todos os lados, as poças tendem a ser mais desastrosas. Nelas não havia Narciso nem visões de inferno. Apenas a cidade retalhada e refratada. E nuvens mais sombrias.
A cidade pode ser bonita sob uma tempestade. Nessa fronteira entre o fim do centro e o início da subida da Brigadeiro Luís Antonio. Ali onde os corredores preparam seu último fôlego para a subida final rumo à Paulista na São Silvestre de todos os anos. As nuvens líquidas, espiraladas, tangem o asfalto, escorrendo em lavas contra os cidadãos mal protegidos. Bela a cidade sob essa névoa inconstante. Em momento de parada involuntária. Tão perto de datas grandiosas e corridas perdidas.
Olhou para o céu com admiração. Foram dias de turbulência mal pressentida. E agora, parado (pela chuva), contempla o que resta da cidade que deixará em breve. Ela quase perde cor e densidade, mas quando assim o percebe ouve sirenes e estridos inclementes. Ainda há vida, qualquer.
A cidade o emociona de uma forma impiedosa. Por um desses caminhos sem volta, sem indicações ou atalhos seguros. Guarda todo o seu pesar em cantos pouco visitados. Envelhecidos sem biografia, reclamam sua voz nessas horas de imobilidade.
Quando a chuva acabar, tudo isso perderá sentido?
Thursday, December 21, 2006
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